Internações são até 16 vezes mais frequentes em quem não tomou vacina

O risco de morte por Covid chegou a ser 18 vezes maior entre os idosos não vacinados, na comparação com os já imunizados, durante a onda causada pela variante ômicron no Brasil.

Na população adolescente e adulta, a mortalidade entre não vacinados foi até 14 vezes maior.

A análise foi realizada pela Folha a partir do cruzamento dos dados oficiais do Ministério da Saúde com as estimativas populacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Foram considerados os registros de mortes e internações no período de dezembro a fevereiro.

Em janeiro, a média chegou a um pico de 151 óbitos diários por milhão de habitantes entre os brasileiros de 60 anos ou mais sem nenhuma dose recebida.

Entre os idosos protegidos com o primeiro esquema completo —duas doses ou o imunizante de aplicação única—, a incidência proporcional de casos letais naquele momento era um décimo da registrada entre os não imunizados (15 por dia).

No início do aumento da curva de casos graves, em dezembro, a diferença chegou a ser 18 vezes maior. Os óbitos de idosos não vacinados voltaram a acelerar (12,6 por milhão), enquanto as mortes entre os imunizados estavam em queda, em um patamar inferior a uma por milhão.

Ao longo dos três meses de prevalência e alta circulação da variante ômicron, a Covid matou em média 9 vezes mais idosos não vacinados do que imunizados.

Entre os adolescentes, jovens e adultos, a mortalidade de não vacinados foi em média 7 vezes maior no período.

 

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No geral, considerando a população de 12 anos ou mais, vacinável desde o ano passado, as mortes diárias por Covid atingiram um pico de 20 por milhão de habitantes não vacinados, contra 3,6 entre os já protegidos.

O levantamento mostra ainda um padrão similar nas hospitalizações de pacientes com quadros graves. A incidência também foi 9 vezes maior entre os idosos, chegando a 16 vezes mais nos piores momentos. Nas demais faixas etárias, as diferenças foram de 6,4 e 13 vezes mais, respectivamente.

Essas disparidades, porém, podem ser maiores, uma vez que as doses de reforço ainda não constam nos registros oficiais de internações do Ministério da Saúde.

Cerca de 42% dos pacientes já tinham a recomendação para tomar a dose adicional —quatro meses após o primeiro ciclo—, mas os dados do Sivep-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica) não permitem saber quantos deles estavam com a vacinação em dia ou atrasada.

Paralelamente, cerca de um terço da população habilitada ainda não havia voltado para receber o reforço, de acordo com os registros do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Além disso, nem todas as unidades de saúde possuem a mesma velocidade e qualidade de preenchimento dos registros, especialmente nos municípios com poucos recursos e menos informatizados.

No estado de São Paulo, por exemplo, a média no período foi de 13 vezes mais óbitos entre os não vacinados na população de 12 anos ou mais. Quase o dobro da média nacional.

Estudo da Secretaria de Estado da Saúde indicou que essa proporção chegaria a até 26 vezes, quando levada em conta a população com 5 anos ou mais. A pasta, porém, se baseou apenas nos dados acumulados e na cobertura vacinal ao término do período. A estimativa era que haveria 716,8 mil moradores sem nenhuma dose no dia 26 de fevereiro, segundo a plataforma VaciVida, do governo estadual.

Na avaliação do pesquisador em saúde pública Marcelo Gomes, coordenador do sistema InfoGripe/Fiocruz, os dados levantados pela Folha reafirmam o sucesso da vacinação e a importância da dose de reforço. Em especial diante dos aumentos recentes de casos na Ásia e na Europa.

"Enquanto o vírus estiver circulando, o risco vai estar sempre nos rondando. As vacinas não oferecem a proteção de 100%, mas fica claro que elas estão dando conta do recado naquilo que se propõem. Sozinhas, elas não vão conseguir impedir o surgimento de novos surtos. Mas essa diferença brutal de incidência entre os não imunizados deve ser manter em eventuais ondas novas", resume o especialista.

Gomes também explica que as variações nas taxas ao longo do tempo são naturais e que é preciso cuidado ao analisar os dados, visto que registros de notificações estão sujeitos a atrasos e ruídos.

"Por isso é fundamental que façamos análises estatísticas para entender o quanto essa diferença é esperada ou se outros fatores podem estar envolvidos. O próprio volume de casos, o aumento epidemiológico, as novas variantes e o tempo entre a vacinação e uma nova onda, por exemplo, podem ter um papel. São muitas variáveis e muitos fatores."

Os dados do levantamento da Folha se assemelham aos divulgados pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos.

Segundo o órgão, em janeiro, o risco de morte foi nove vezes maior entre os não imunizados na população geral dos EUA. A proporção de hospitalizações foi em média 6 vezes superior entre os adultos e 8 vezes maior entre os idosos não vacinados acima dos 65 anos.

"Mesmo que a média de mortes não tenha acompanhado o aumento dos casos durante a explosão da ômicron no geral, tivemos um novo pico de internações associadas à Covid no Brasil na faixa dos 80 anos ou mais, que é a população mais vulnerável. Foi muito similar ao pico de março do ano passado. Imagina como seria se essas pessoas não estivessem vacinadas?", observa Gomes.

Em nota técnica divulgada na semana passada, os pesquisadores do Observatório Covid-19 destacaram que o nível de cobertura vacinal ainda é irregular no país.

O estudo mostrou, por exemplo, que as faixas abaixo dos 29 anos de idade ainda possuíam menos de 80% de imunizados com o esquema completo. E nenhum grupo etário havia alcançado esse patamar de vacinados com a dose de reforço, mesmo entre os idosos, elegíveis desde setembro do ano passado.

"As internações em leitos clínicos, leitos de UTI e óbitos hospitalares têm cada vez mais se concentrado exatamente entre os mais longevos. Dessa forma, idosos que não mantêm esquema com reforço em dia estão em situação particularmente perigosa, mesmo com o arrefecimento da incidência e mortalidade na população como um todo", alerta a nota.

A análise da Folha foi baseada nos dados de 88,9 mil casos graves registrados em todo o Brasil entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, de pessoas com 12 anos ou mais e com preenchimento das informações sobre o status vacinal do paciente. Destes, 31,5 mil evoluíram a óbito.

Matéria publicada em: https://tinyurl.com/2p87apzz


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